
No bem da verdade, a escolha do título deste post foi meio errada, porque ao falar da beleza visual e narrativa de
O Palhaço, não estarei elogiando só o Selton, mas a equipe do filme, de maneira geral. O filme que foi escrito (em parceria com Marcelo Vindicatto), dirigido, montado (junto com Marília Moraes) pelo ator, ainda lhe reservou o papel principal. E sim, é muito para uma pessoa só fazer, mas Selton Mello conseguiu realizar todas as tarefas não só com uma qualidade, mas também com uma linguagem totalmente poética e incomum na estética do cinema, especialmente do cinema nacional.
Conta a história de um circo e das pessoas que vivem nele, dando destaque a um palhaço que perdeu a graça, e deixou de ver sentido na maneira com que vive sua vida. Mas mais do que isso, o filme fala não só da vida circense, ou da melancolia da crise de identidade. Ele faz uma homenagem ao artista, e valoriza a persistência de pessoas que exercem profissões com pouco prestígio, e que superam dificuldades por fazer com prazer, por fazer aquilo que elas nasceram para fazer.
Por se tratar de um ambiente circense, o filme exigiu uma atuação especial do elenco que precisou de um conhecimento específico técnico. A tarefa foi cumprida com sucesso. As cenas de circo são as mais envolventes, a ponto de nos fazer esquecer que estamos vendo um filme, e pensar que estamos de fato debaixo das lonas. O ator Paulo José, que interpreta o palhaço
Puro Sangue teve um desempenho incrível, assim como o próprio Selton Mello, que, me arrisco a dizer, teve melhor desempenho no picadeiro, no que nas demais cenas.
Porém, como já disse no começo do post, não estou aqui para falar unicamente do diretor. Uma das coisas mais me chamou atenção na obra é a beleza estética. A
fotografia e a
arte (assinadas por Adrian Teijido e Claudio Amaral Peixoto, respectivamente) saltam aos olhos durante todos os 90 minutos de filme. As cores que habitam os cenários bucólicos das estradas de minas gerais são suaves e entram em constante contraste com cores quentes, sujas e degradadas dos elementos do circo. O filme acaba por ser uma sequência de obras de arte, quase que pintadas à mão, que mereciam ser admiradas por horas cada uma.
Por fim, O Palhaço é um filme que faz pensar, entretém, comove, é uma aula de cinema e também a prova definitiva de que o cinema brasileiro se igualou a grandes produções estrangeiras, em nível técnico e criativo, para aqueles que ainda o subestimavam.
Paulo José e Selton Mello interpretam Puro Sangue e Pangaré